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O que ensinei a meus filhos sobre o Dia Internacional das Mulheres

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Por: Glauciana Monteiro Nunes. 

Até o ano passado eu dava parabéns para as mulheres que eu amo. Até alguns anos atrás eu, enquanto redatora de empresas, escrevi mensagens clichês de “Parabéns, Mulheres, pela força e delicadeza”. Eu fiz tudo isso. Ai, que vergonha!

Neste ano, sem saber ao certo o que mudou, ontem à noite, na véspera deste famigerado dia 8 de março de 2016, eu questionei. Porque nos dão parabéns? Questionei ontem, no momento em que estávamos na cozinha eu, meus dois filhos, Eduardo e Luca, e meu companheiro, Eduardo. Dudu me disse que hoje seria o Dia Internacional da Mulher e eu respondi a ele, fazendo uma pergunta, questionando o que isso tinha de importante. Ele não soube responder. Provavelmente, a professora dele também não saiba porque existe, na real, este dia. Eu rebati, dizendo que esse dia não era para dar Parabéns. Eduardo, meu companheiro, emitindo a opinião dele, me interpelou e disse que era importante, sim! Plim, alguma coisa aconteceu no meu coração, bem ao estilo de Caetano Veloso.

Acordei sabendo ao certo o que aconteceu. Aconteceu que eu acordei! Dormia profundamente no status quo, no padrão estabelecido, no que me ensinaram como certo, na predominância de conceitos, no não questionamento de algumas coisas. Eu simplesmente não sabia ao certo, mas ia fazendo, ridiculamente, o mesmo ritual, todos os anos.

Hoje, acordei diferente. E também fiz diferente. No momento em que eu pensava sobre o que é ser mulher neste mundo. No exato momento em que eu lia no Estadão que, no Brasil, uma mulher é agredida fisicamente por um homem a cada 7 minutos, vi meu filho de 6 anos, com meu iphone na mão escutando “Delícia, delícia, aí se eu te pego, ai ai, se eu te pego”. Me lembrei, na hora, de meu outro filho, o de 8 anos, numa rodinha de crianças no condomínio, no momento em que chegou um outro garoto da mesma idade e perguntou a ele: “quais dessas meninas você já pegou?”. Eu via tudo lá de cima, da varanda. Meu Eduardo, na sua inocência de 8 anos (e ainda muito meninão, graças à Deus) não entendeu nada, ficou olhando pro garoto com cara de bobo e saiu andando de bicicleta. Eu, estarrecida, fui tomar um copo de suco.

Na mesma hora em que aconteceram essas coisas, eu peguei o iphone das mãos de Luca, guardei o iPad na gaveta e tirei o cabo do netflix da televisão. De manhã, enquanto Dudu assistia à novela “Chiquititas”, ouvi as crianças da ficção falando em namoro e algo sobre não usar saias curtas. Não, minha gente. Não! Não mesmo. Mil vezes não. Aqui em casa, como uma vez eu já cortei a TV à cabo e a TV aberta para nunca mais (isso já faz mais de 3 anos), hoje eu cortei o Netflix e também o acesso ao Youtube pelo iPad e pelo iPhone.

Eu não permito que meus filhos sejam homens clichês. Eu não me permito educar homens machistas. Grosseiros. Desrespeitosos. Mal caráters. Não. Eu não posso! Eu serei cobrada por Deus pela educação deles. Eu sou a grande responsável, já que eu os crio sozinha, por lhes dar os ensinamentos do que é certo e do que é errado.

Se eu vou criá-los dentro de uma bolha? Não. Acho que não. Muito difícil criar em bolhas, indo à escola, à natação, ao futebol, ao encontro de amigos. Contato social existe e é bem bom. No entanto, eu posso deixá-los afastados de estímulos que os cérebros deles ainda não estão prontos para assimilar. Eu posso deixá-los afastados de músicas que estimulam a coisificação das mulheres, como “delícia, ai se eu te pego”, antes que eles tenham entendido o que isso, de fato, significa. Eu prefiro mantê-los longe do desejo de namorar, antes que tenham idade neurológica para processar a sexualidade. Quero que eles sintam e experimentem seus desejos sexuais como algo normal, natural e dentro dos parâmetros saudáveis, respeitando o corpo deles e, sobretudo, o corpo do outro, principalmente se o outro for uma menina.

Neste dia 8 de março de 2016 eu questionei, pela primeira vez, apenas aos meus 34 anos, esse Dia Internacional da Mulher. Nós, mulheres, não temos nada o que comemorar. Temos os menores salários, temos os cargos mais baixos, temos os maiores índices de violência e morte por violência física, não temos escolha ao que fazer com nosso próprio corpo, temos medo de andar sozinhas na rua, à noite, temos medo de viajar com amigas, sem a presença de um homem, e sermos assassinadas por que não quisemos dar nosso corpo a um estranho, como as meninas mortas no Equador na semana passada. Não temos NADA a comemorar! A luta é grande.

Sou grata a todos as mulheres do mundo por terem aberto este caminho. Eu sigo também na luta por dias melhores. Por mais igualdade, por mais respeito, por mais cuidado, por menos violência. Eu não quero flores por este dia. Quero flores, porque flores são lindas, enfeitam e perfumam a minha casa. Mas, não quero flores porque eu nasci com vagina e não com pênis. Isso apenas reforça a nossa diferença. Quero tolerância, quero respeito, quero igualdade de gêneros, quero poder de escolha.

E o que eu posso fazer de mais efetivo para marcar este dia 8 de março é ensinar a meus filhos que não existem coisas de meninos e coisas de meninas. Que rosa não é cor de menina. Que azul não é cor de menino. Preciso ensinar a meus filhos, todos os dias, conversando, elucidando, trocando, questionando, que mulheres merecem respeito, que eles as vejam como aliadas na vida, como companheiras de jornada, nem mais e nem menos. Que eles não abusem delas. Que eles não toquem nos seus corpos se não tiverem o sim delas. Que eles não as ridicularizem enquanto elas estiverem dirigindo, já que todo mundo, homem ou mulher, pode ser bom ou ruim de volante. Que eles saibam que um shorts curto ou comprido não muda nada em relação ao corpo das mulheres. Que elas podem usar o que quiserem e ainda assim não estarão ensinuando nada pelas roupas que vestem.

Eu acordei do profundo sono em que dormia. E sou grata a isso. Antes tarde do que nunca. E viva as mulheres, viva os homens, viva todos os seres que seguem lutando e trabalhando por um mundo melhor, com mais igualdade, com mais amor, enfim. Porque tudo o que precisamos é de amor!


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